Crítica na imprensa |
Sinopse do romance
A convite do seu psiquiatra, Arthur vai a caminho da
Áustria, onde irá participar como convidado num
encontro médico sobre uma estranha doença. Aí
conhece Renata, outra convidada, que acha
particularmente atraente e misteriosa.
Na estância de esqui, dá-se, então, uma morte
acidental de uma das organizadoras. Arthur regressa
a casa e à sua vida de sempre. No entanto, a sua
rotina nunca mais será a mesma.
Na net ele descobre uma espécie de sociedade secreta
dividida por "salas". Os protagonistas dessas salas
são considerados génios ou mestres. Participando num
jogo quid pro quo, entra na intimidade de alguns
jogadores. Entre eles está Renata.
O seu interesse por Renata transforma-se em paixão
até que um dia se voltam a encontrar. Partem, então,
à descoberta do amor, e também da resolução do seu
problema clínico. Até que a doença o transforma
naquilo que nunca julgou vir a ser.
Prólogo
- Pensa nisto: há cerca de quinhentos mil anos o
Homem temeu, observou, manipulou e, por fim, passou
a amar o fogo. A incompreensão e o medo evoluíram
para fascinação e dependência. A simplicidade da
vida foi preenchida pela sede da descoberta. A vida
e a morte dissociaram-se, surgindo o sentido da vida
e a justificação da morte. Ao acto de dormir, caçar,
procriar e comer foram acrescentados o pensar e
construir, o amar e odiar. O Homem não mais parou.
Atravessou civilizações, culturas e pensamentos
germinando sementes de inconformismo.
- Continua.
- Até hoje, nas guerras os homens avançaram e
tombaram, só alguns ou todos; as epidemias dizimaram
populações; as catástrofes interromperam
abruptamente o percurso até dos mais resistentes; as
missões de trabalho contaram com baixas; o
quotidiano trouxe a morte. Enfim, todos nasceram a
saber que morreriam. E essa morte seria sempre
inesperada e de um momento para o outro.
- Não, nem todos. Os génios e os loucos enfrentaram
a percepção dessa fatalidade, multiplicando cada
segundo na Terra, dando largas á sua criatividade,
camuflando a sua perenidade. Em desespero ou em
delírio procuraram a eternidade, um sentido razoável
ou simplesmente a conformação face á evidência,
sempre procurando tornar tolerável a tomada de
consciência do desvio que a Natureza lhes pregou. O
raciocínio e a clarividência transformaram-se numa
cruz. A inteligência logrou vencer os desafios
terrenos mas a intelectualidade condenou-o a ver-se
como um nada, sem destino e sem Deus.
- Precisamente. A loucura é provavelmente tão antiga
como a própria raça humana. Os arqueólogos
encontraram crâneos com pelo menos cinco mil anos
que apresentam orifícios feitos com ferramentas
perfurantes. A explicação reside provavelmente no
facto de os loucos e epilépticos serem vistos na
antiguidade como pessoas possuídas por espíritos
malignos, podendo assim os demónios escapar pelos
buracos.
- Sim. Perante a evidência da morte e a consequente
aceitação do desfecho inevitável, a quebra das
regras e a não continuação do jogo, surgem aos
‘iluminados’ como um problema menor, ou mesmo um não
problema. O que têm a perder quando sentem que não
podem ganhar? Os que resistem ao abismo, intentam
por ladeiras escorregadias onde a fonte de
equilíbrio são alguns sopros que devidamente
doseados proporcionam ainda invulgar prazer. Sem
sentido de vida, mas com sentido de aproveitamento
de vida. Desde que a corda, esticada ao extremo, o
permita.
- Entendo. Só os loucos vencem porquanto na sua
visão livre foram poupados ao espartilho. Mas a
crença de que os loucos eram obra do demónio
evoluiu, chegando a religião cristã a distinguir
entre loucos bons, portadores de uma inocência
divina, e os loucos maus instrumentos do demo. Entre
os bons contam-se os artistas, indivíduos
normalmente despegados dos valores terrenos como o
dinheiro, possuidores de uma imaginação prodigiosa,
podendo ver coisas que mais ninguém vê. O génio e o
louco passam a ser vistos lado a lado e parte-se em
busca da misteriosa ligação entre os indivíduos
altamente criativos e aqueles com distúrbios
mentais, como os maníaco-depressivos.
- Bela idade a da pedra...
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